Desabou a Igreja Matriz de Congonhas

Felizmente não houve vítimas.

Uma tempestade atingiu o então distrito de Congonhas do Campo na noite do dia 2 de março de 1925 e se estendeu pela madrugada seguinte. A forte chuva castigou o povoado, provocando danos em casas, ranchos e até em uma das mais importantes igrejas da Arquidiocese de Mariana: a Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

O sinistro foi relatado em diversos jornais da época. Em um deles, o jornal "O Paiz", em sua edição de 31 de maio de 1925, assim descreve o nefasto episódio ocorrido em Congonhas:

"Após uma tempestade que caiu durante toda a noite anterior em Congonhas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição sofreu severos danos no telhado e paredes laterais vindo a ruir na manhã seguinte. Durante a celebração religiosa o pároco redentorista Godofredo Strybos percebeu a gravidade da situação e retirou todos os fiéis antes do desabamento."

Naquela manhã do dia 3 de março de 1925, a percepção do Padre Godofredo e sua rápida atitude em esvaziar a igreja, poupou a vida (inclusive a sua) de muitos fieis ali presentes que aguardavam para participarem da celebração da missa dominical no portentoso templo católico, uns dos maiores de Minas Gerais.

O Jornal "Correio da Semana", publicado em 26 de março de 1925, fez a seguinte narrativa da tragédia congonhense:

"Congonhas do Campo, o maravilhoso lugar onde domina a fé no silêncio marcial dos seus templos e no coração do seu boníssimo povo, encontra-se consternada profundamente com o haver destruído todo centro de sua majestosa igreja Matriz, que domina sobranceira todo o arraial e onde receberam a primeira benção, a maioria de seus filhos. Construída no início do século XVIII, o interior daquele majestoso templo era um verdadeiro brinco, trabalhado na sua oleographia com apurada arte. O triste acontecimento que a todos consternou, não fez vítimas e, felizmente, não destruiu as sagradas imagens que dele haviam sido retiradas no dia anterior; mas traz os habitantes daquele distrito apreensivos, tão custosa ficará a reconstrução do templo e tão parcos são os recursos de que aquele crente povo dispõe."

A reconstrução:

Angustiada, a população se mobilizou e contando com a ajuda dos padres da Congregação Redentorista (presentes em Congonhas desde fins de 1923), passou a angariar fundos para iniciar a obra de recuperação da igreja Matriz, símbolo de fé e devoção de toda a região, naquela época.

O Arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, autorizou a reconstrução do templo e iniciou campanha de arrecadação de esmolas para ajudar no custeio da reforma, recorrendo ao Santuário do Bom Jesus de Matosinhos que promoveu o empréstimo de 27 contos de réis, que se somou aos 13 contos de réis que os fiéis e moradores já haviam arrecadado.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - década de 1950

Para acompanhar os trabalhos de recuperação e realizar a gestão financeira, ficou incumbido o Padre (e Senador Estadual) João Pio, representando o Sr. Arcebispo no Santuário. Como mestre de obras se apresentou o Sr. José Júlio, hábil carpinteiro e seu auxiliar, o Sr. Manoel Rodrigues, que realizaram o trabalho recebendo a metade do valor da diária normalmente paga a estes profissionais.

Mereceu a devida menção o Vereador do Distrito de Congonhas, José Francisco Cordeiro, que arrecadou um valor considerável de esmolas para a aquisição de materiais utilizados na obra.

E igualmente mereceram também a justa menção os demais operários que trabalharam na reforma da Igreja Matriz: os Senhores Miguel Silva, Aristóteles Silva, João Batista Gomes, Manoel Marques, Carlos Oliveira, Syllas Passos, José Affonso e João Antônio Pereira.

E após nove meses de exaustivos trabalhos de recuperação, o templo foi entregue aos fieis em dezembro de 1925, devidamente paramentado e com as imagens devocionais em seus respectivos nichos de adoração.

Restauração recente:

Um dos símbolos do barroco mineiro, a Igreja Matriz teve sua construção iniciada por volta de 1709 cuja obra se estendeu por quase todo século XVIII. Tombada pelo IPHAN em 1950, possui a tribuna e capela-mor datada de 1764 e dourada por Manuel Francisco Lisboa, além de outros trabalhos artísticos atribuídos a Francisco Vieira Servas. O frontispício, com pórtico esculpido em 1777, é obra de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho).

Interior da igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - década de 1960

No início dos anos 2000 foi detectada a necessidade de novo restauro na igreja, fato que se concretizou em 05/12/2011, quando foi celebrado o convênio de cooperação entre o Ministério Público de Minas Gerais e Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Congonhas para a restauração da igreja Matriz com o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Foram estimados para a realização das obras de restauro, o investimento de R$ 1,4 milhão oriundos do PAC – Cidades Históricas, visando a restituição da integridade física, estética e histórica dos bens artísticos do interior da igreja Matriz, tais como o retábulo do altar-mor, a tribuna da capela-mor e o Arco do Cruzeiro, além da imunização, reintegração de perdas cromáticas e recomposição das partes faltantes.

As obras se iniciaram em 10/04/2012 e sua reinauguração se deu em 30/03/2017. Após quase cinco anos em restauração, a igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi devolvida à comunidade, que celebrou o momento com muito júbilo, orações e missas.


Por André Candreva

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas
Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete
Academia de Letras Brasil – RMBMG
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
Academia de Letras, História e Genealogia da Inconfidência Mineira


REFERÊNCIAS:

Jornal "O Paiz" - 31/05/1925
Jornal "A Federação" - 09/03/1925
Jornal "A Noite" - 10/03/1925
Jornal "Correio da Semana" - 26/03/1925

Museu da Imagem e Memória de Congonhas

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