José Hélio de Miranda – “O comunicador Dê Mirada”...

O comunicador José Hélio de Miranda, mais conhecido como “Dê Miranda”, nasceu em 05 de fevereiro de 1938, no Distrito do Alto Maranhão, em Congonhas. Filho de João Evangelista Sobrinho e Bernadete Augusta Roman, ainda na infância veio morar em uma modesta casa localizada próximo à Praça Bandeirantes em Congonhas. Cursou o primário no grupo escolar Barão de Congonhas e sua primeira professora foi Fortunata de Freitas Junqueira – a saudosa “Dona Naná”. Na adolescência estudou no Seminário dos Padres Redentoristas de Congonhas onde recebeu uma sólida formação educacional e cristã.

Em meados da década de 1960, Dê Miranda principiou a trabalhar na Rádio Difusora de Congonhas onde aperfeiçoou a técnica de comunicador.

Em fins de 1967, no vigor de sua juventude, estreitou laços de amizade com o produtor e diretor de cinema Oswaldo Massaine quando da gravação do filme Madona de Cedro, produzido pela companhia de cinema norte-americana MGM, que usou como cenário principal o conjunto histórico do Santuário da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas.

Todo o elenco do filme, além do diretor e equipe técnica, ficou hospedado no Hotel Santuário onde Dê Miranda residia. E foi no salão do restaurante Cova do Daniel, anexo ao hotel, que Dê Miranda se enturmou com os atores Anselmo Duarte, Sérgio Cardoso, Leonardo Vilar, Paulo José, Jofre Soares, Cleyde Yaconis e Ziembinski, além da atriz Leila Diniz – estrela do elenco.

Generoso e muito solícito, foi por seu intermédio que vários congonhenses participaram das gravações como figurantes.

Trilhando o caminho da política foi eleito vereador para a legislatura 1971 a 1973, mas com a renúncia do prefeito Sebastião Maurício de Carvalho, o “Dr. Maurício”, renunciou ao seu mandato legislativo.

Em paralelo à sua vida pública na política congonhense, outra faceta de Dê Miranda era a de empresário artístico. Em 1970, quando presidia o Clube Ideal, Dê Miranda passou a empresariar o conjunto musical “Os Escaravelhos”, que tinha como integrantes Lilico, João, Zé Rolinha, Luiz Paulo, Wando, Neném Bonfá e Valtinho. Nessa mesma época matinha laços de estreita amizade em Congonhas com Nilo Amaro que, além de cantor, era também empresário e tinha sob sua tutela o conjunto “Os Cantores de Ébano”, com 12 componentes.

Foi um dos responsáveis por acreditar e incentivar o cantor Vanderlei Alves dos Reis, o Wando, a buscar o sucesso nacional como cantor, dando-lhe a oportunidade e transformando-o em líder dos Escaravelhos, onde o Vanderlei, como numa escalada, tocou violão, órgão, percussão, baixo, guitarra, até que um dia se transformou em Wando, renomado cantor romântico que fez sucesso país à fora.

Dê Miranda, que na época já era locutor da Rádio Congonhas, expandiu os horizontes do conjunto “Os Escaravelhos” levando-os a fazer bailes por toda Minas Gerais e até São Paulo.

No final de 1971 Wando vai para São Paulo e com o auxílio de Nilo Amaro é apresentado ao cantor Jair Rodrigues, que grava a canção “O importante é ser fevereiro”, que em pouco tempo se torna um sucesso no Brasil. Wando, autor da canção, passa então a ter oportunidades na capital paulista e em pouco tempo se torna sucesso nacional. Wando e Dê Miranda mantiveram os laços de amizades por toda a vida.

Em 1973 Dê Miranda mudou-se para Belo Horizonte onde trabalhou como taxista e em seguida como servidor da Assembleia Legislativa desempenhando a função de assessor parlamentar dos deputados Carlos Cotta e João Pinto Ribeiro. Foi também chefe de Gabinete da Secretaria de Governo do Estado de Minas Gerais além de ter trabalhado no jornal Diário de Minas.

Ainda na década de 1970 participou da primeira equipe de esportes da Rádio Congonhas (AM 1020 KHz), atuando como comentarista ao lado de José Athaíde, o popular “Carioca”.

No histórico 06 de abril de 1979, Dê Miranda transmitiu direto do Maracanã, juntamente com seu amigo e jornalista Macário Batista, a partida de futebol entre Flamengo X Atlético/MG, que se tornou a primeira grande transmissão esportiva da Rádio Congonhas considerando todas as dificuldades técnicas da época.

De volta à Congonhas, elegeu-se novamente vereador de 1983 a 1988, e nesse período repaginou um dos programas de maior audiência do meio radiofônico da região, o Participovo, veiculado por 18 anos pela rádio Congonhas. A música “O Que é, o Que é” de Gonzaguinha - tema de abertura - era sua marca registrada.

Foi reeleito vereador para o mandato de 1997 a 2000. Assumiu a assessoria municipal de comunicação no primeiro mandato do prefeito Anderson Cabido (2005 – 2008) sendo um dos responsáveis pela criação da Rádio Educativa FM que pertence ao Município de Congonhas. A partir de 2009 conciliava a função de radialista com a de assessor parlamentar do então vereador Antônio Eládio Duarte.

Em grande parte de sua vida doou-se à Congonhas como político, radialista e servidor público, sempre apoiado por sua esposa Teresinha Marra, com quem teve dois filhos, sua fonte de inspiração.

Buscando aperfeiçoar-se sempre na vida profissional, ingressou no curso de Bacharel em Direito da Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete/MG no final da década de 1980, graduando-se em 1993.

No ensolarado 8 de setembro de 2010 silenciou-se o microfone do programa Participovo. 

Congonhas emudeceu-se.

Velado no salão nobre da Câmara Municipal, a multidão em sua despedida e a plenos pulmões, entoou os versos consagrados da canção “O Que é, o Que é” de Gonzaguinha - “Eu fico com a pureza das respostas das crianças: É a vida! É bonita e é bonita! Viver e não ter a vergonha de ser feliz, Cantar, A beleza de ser um eterno aprendiz”...

Dê Miranda, o amigo radialista, jornalista e advogado, desembarcou do trem da vida.


Por André Candreva

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas
Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete
Academia de Letras Brasil – RMBMG
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
Academia de Letras, História e Genealogia da Inconfidência Mineira

REFERÊNCIAS:

Entrevistas com Terezinha Marra e Antônia Ferreira (‘Tonha’) em 2018;
Câmara Municipal de Congonhas - arquivo legislativo

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