Congonhas celebrou seu primeiro aniversário...

Congonhas, município emancipado de Conselheiro Lafaiete em 17 de dezembro de 1938 e instalado em 1º de janeiro de 1939 com a posse do prefeito Dr. Alberto Teixeira dos Santos Filho (nomeado pelo então Governador de Minas Gerais, Dr. Benedicto Valadares), dava seus primeiros passos de sua trajetória independente, tendo à frente enormes desafios administrativos e financeiros a serem vencidos.

Decorridos os doze primeiros meses da recém-instalada administração municipal, e mesmo com parcos recursos e quadro reduzido de servidores públicos (eram apenas cinco), o prefeito Dr. Alberto Teixeira, com muita altivez, finalizava o ano com várias realizações e conquistas em prol da população.

E para celebrar esse momento, uma comissão (popular e independente) foi formada com o fito de organizar todas as festividades, bem como a artística ornamentação da cidade. Faziam parte da distinta comissão os senhores: João Paulo Arges - presidente; Dr. Pierre Hebri Geisweiller - vice-presidente; farmacêutico Arnaldo Rodrigues Pereira; Joaquim Rodrigues de Brito - tesoureiro; Joaquim dos Santos, Djalma de Brito, José Vartuli (meu bisavô materno), José Júlio da Silva, Abílio de Oliveira Júnior, Aristides Francisco Junqueira, Emílio Apes e Juvenal de Freitas Ribeiro - secretário.

Tudo foi minimamente pensado para que o dia 1º de janeiro de 1940 fosse inesquecível e ficasse marcado na história de Congonhas.

Assim, os congonhenses celebraram com júbilo o primeiro aniversário de instalação do município com grandiosos festejos e solenidades cívico religiosas.

Uma salva de 21 tiros e festiva alvorada pela "Banda Bom Jesus" despertou a cidade para uma grande jornada de civismo.

Às 10 horas, na igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, foi celebrada com grande pompa, solene missa cantada em ação de graças, assistida pelas autoridades e pela família congonhense.

Dr. Albertinho em discurso durante almoço comemorativo do 1º aniversário de Congonhas no Hotel Santuário - Foto/acervo: Museu da Imagem e Memória de Congonhas

Banquete:

O presidente da comissão organizadora das festividades, o sr. João Paulo Arges, organizou e ofereceu ao prefeito municipal, Dr. Alberto Teixeira dos Santos Filho (carinhosamente conhecido por "Dr. Albertinho”), como prova de consideração e estima, um almoço íntimo de sessenta talheres no restaurante do Hotel Santuário. A esse ágape, que transcorreu na mais viva cordialidade, compareceu o Sr. Mário Rodrigues Pereira, prefeito de Conselheiro Lafaiete, acompanhando de uma comitiva de representantes do município vizinho (e de onde Congonhas se emancipou), e amigos de Congonhas; bem como representantes de todas as empresas mineradoras instaladas em seu território e localidades vizinhas, além dos representantes do distrito de Lobo Leite (o distrito do Alto Maranhão ainda não havia sido incorporado à Congonhas, o que ocorreria somente a partir de 01/01/1944).

João Paulo Arges expressou a satisfação do povo e a sinceridade da homenagem. Em seguida fez uso da palavra o Dr. Pedro Bernardo Guimarães, saudando o prefeito de Conselheiro Lafaiete e demais visitantes. O Dr. Mário Rodrigues Pereira, em seu nome e no dos visitantes, testemunhou a estima ao prefeito de Congonhas, fazendo os melhores votos pelo engrandecimento do município. Pelos funcionários da Prefeitura, falou o Sr. Juvenal de Freitas Ribeiro, que afirmou ao prefeito a amizade de seus auxiliares de administração.

Por fim, levantou-se o Dr. Alberto Teixeira dos Santos Filho, que expressou sua gratidão pela homenagem que acabava de receber, e do conforto que lhe trazia aquela categórica afirmação de que o povo de Congonhas estava satisfeito.

Os brindes de honra ao presidente da República e ao governador do Estado, foram erguidos, respectivamente, pelos prefeitos de Conselheiro Lafaiete e Congonhas.

Terminada a parte protocolar do banquete, usaram da palavra diversos outros oradores, que lembraram os nomes dos benfeitores e amigos ausentes de Congonhas.

Os oradores João Paulo Arges (à esquerda) e Paulo Cardoso Osório (de óculos). Foto/Acervo: Welerson Athaydes

Passeata cívica:

Às 18 horas, logo após a solene bênção na igreja Matriz, oficiada pelos Revmos. Padres Redentoristas, grande massa popular, estimada em cinco mil pessoas, percorreu diversas ruas da cidade, com grandes manifestações de entusiasmo, estacionando na praça Dom Helvécio, em frente à Prefeitura, onde, com intensa vibração cívica, se fizeram ouvir diversos oradores, entres os quais o Sr. Aristides de Paula Reis e Juvenal de Freitas Ribeiro, em nome do povo; a senhorita Fortunada de Freitas¹, pela mulher congonhense; o farmacêutico Arnaldo Rodrigues Pereira, pelo comércio, lavoura e indústria de Congonhas; o Dr. Pedro Bernardo Guimarães, pelo operariado local; o Reverendíssimo padre João Muniz, que saudou o prefeito municipal e discorreu, com eloquência e serenidade, sobre os melhoramentos já realizados, afirmando não se haver a administração olvidado qualquer recanto da cidade.

O Dr. Alberto Teixeira dos Santos Filho, prefeito Municipal, afirmou a sua satisfação em face do entusiasmo popular, relembrando o seu programa de governo, que se resumia da expressão – “justiça a todos”.

Com a execução do Hino Nacional pela “Banda Bom Jesus”, deu-se o encerramento desta grandiosa festividade, que marcou época na história do município, reafirmando o grande civismo do povo congonhense daquele tempo.

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¹ Cabe aqui ressaltar que a única mulher a se manifestar publicamente nessa ocasião foi Fortunata de Freitas, filha de Maria José de Andrade – a “Dona Lalá”. Fortunata se uniu em matrimônio com Aristides Francisco Junqueira – o “Zico Junqueira”, formando uma das mais queridas famílias congonhenses, ficando ela, Fortunata, conhecida carinhosamente como “Dona Naná”, e que legou ao povo congonhense sua profícua trajetória educacional, a exemplo de sua Mãe.


Referência: 

  • Jornal A Noite/RJ - edição de 07 de janeiro de 1940


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